Para mim o pior nem é não ter boas series para ver (sempre tenho a opção de um livro ou de vir à net).
É mesmo a lavagem cerebral que a televisão anda a fazer aos miúdos, e aos não tão miúdos como isso.
Segundo as normas Morangos com Açúcar, baseadas em factos (totalmente) verídicos, quem for virgem até aos 14 é um cromo, quem não mandar os pais à merda pelo menos duas vezes ao dia é um totó, quem não passar a vida enfiado num café é um caso perdido de insociabilidade, quem não andar na moda não merece qualquer tipo de sentimento e por aí em diante.
Isto se não falarmos das rivalidades "betos"-"dreds" (com que me deparo todos os dias), nos putos que começam a sair à noite aos 12 anos, nas mudanças instantâneas de guarda-roupa, com a mudança de personalidade também incluída no pacote, no fabuloso mundo onde não existe gente feia, nas marcas que se atropelam em vestir os actores, figurantes e arredores, nas turmas bem-comportadas por defeito e nos dia-a-dias comuns que incluem, no mínimo, um desgosto amoroso, vigarices e outras tormentas do género.
Mas falo com conhecimento de casa, como pode ser isso?
Pois, eu tenho uma irma "morangólica" em casa, que insiste em que a televisão esteja estratégicamente posicionada no 4 durante um mínimo de 3 horas diárias. Como ela, tantas, e tantos, por aí.
Com direito a criação de artistas, como um intervalo de dois meses desde que pensaram que iriam cantar (??) a serem famosos e conseguirem uma audiência global de 3 milhões de pitas, quem quer apostar nas series de qualidade.
A TVI tem uma panóplia delas, todas a passar no prime-time da madrugada. A SIC segue-lhe as pisadas nesta guerra por audiências.
De manhã as televisões optam pelos lamme-shows, cheios de ofertas de caridade a quem não consegue ver os interesses comerciais por trás da manobra. Mas whatever deixem-nos estar, é preciso televisão para os velhos que estão em casa sozinhos, e que depois de uma vida de sacrifício (os ricos não vêm o Goucha) querem é acreditar que ainda existem finais felizes.
Durante a tarde temos a re-re-repetição dos grandes clássicos, outra vez novelas, que vão desde a Escrava Isaura a Anjo Selvagem, passando pelos Olhos de Água.
E vou passar à frente o assassínio de Dawson's Creek, que tinha tudo para ser muito (mas muito) melhor que os Morangos, mas que foi votado à incerteza dos horários e a uma dobragem no mínimo nojenta.
À noite o state-of-art passa, mais uma vez, pela TVI. Pontualmente à 8, temos um jornal pautado pela isenção, conteúdos nada sensacionalistas, reportagem credíveis e de qualidade e agora (aliás, como sempre) com pivots de qualidade indiscutível.
Acho que sim, só sobra a 2:.Temos direito a Simpsons, Futurama, Friends, 24, O Diário de Sofia (porque não?). Infelizmente o canal não está posicionado para os jovens. A 2: sempre foi vista como um buraco da RTP nº1, para onde vão as series mais alternativas, e que não têm lugar na tabela por não terem capacidade para concorrer taco-a-taco com as novelas (outra vez as novelas, sempre as novelas!!), e o puro lixo a que é necessário dar algum destino antes de dar como destino às cassetes o caixote do lixo.
Temos TV Cabo. Maravilhosamente maravilhoso. Inovação pensei eu...
Pois..
Num pacote de 40 e tal canais, salvam-se poucos mais que o Fox, Radical, Comédia, um ou dois dos desportivos, e outros tantos de cinema, para quem quer ver filmes dos quais já se sabe o fim. Ah, e a MTV, esse ícone de gerações, um canal que, no pouco tempo em que passa música, está sujeito a playlists massificadas e sonoridades baseadas nos interesses comerciais das grandes companhias.
Balanço final: deixem estar que eu aconselho-vos uns quantos livros para as quantas horas em que só passa quanta merda na TV nacional.